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o senhorzinho do livro deve estar no próximo capítulo
O mar era verde em umas partes, azul em outras. O banco em que eu estava era o único que havia sol: um lugar disputado em uma manhã fria no litoral. Atrás de mim, um senhor com boné e bolsa azuis, um livro fechado na mão. Ele escorou em uma árvore me olhando, claramente cobiçando…
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a transformação das longas viagens
Sempre que me perguntam em entrevistas sobre os aprendizados que tive após a minha longa viagem de bicicleta ou quando pedem para que eu deixe uma mensagem de incentivo para as pessoas, me encontro perdido. A verdade é que eu não sei qual foi a grande lição. Então cada vez a resposta é diferente. O…
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processo escrita desenho
Quando me fiz nômade, cumprindo karma e DNA, o modelo contratual de vida que me foi apresentado desde muito novo começou a desmoronar. As paredes, que já contavam com rachaduras e descascamentos, foi ao chão. Acreditando em não sei o quê, confiando em algo invisível que pairava, eu tive a coragem de sair para uma…
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um caixeiro-viajante que sempre tem a mercadoria que não precisa
Projetar uma viagem que pode durar anos dá um pouquinho mais de trabalho do que planejar uma saída de fim de semana. Mas é uma etapa deliciosa de se fazer. É o momento em que você está inventando a sua liberdade, mas também te deixa com o nível de ansiedade nas alturas (o que te…
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um ano viajando de bicicleta
No primeiro dia da viagem, saí em silêncio. Três pessoas me viram partir. Fazia um leve frio – desses das manhãs de Goiás. A cidade ainda dormia. Saí meio desequilibrado guiando minha nova casa, carregando tudo o que eu tinha em alguns alforjes. Quarenta e quatro quilômetros depois, eu chegava em Piracanjuba. De repente eu…
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lançando minha toalha em pregos enferrujados
Eu estava vigiando as bicicletas enquanto a Andry ia ao banheiro do posto de gasolina. Um garotinho montado em sua bicicleta me olhava de longe. E eu olhava de volta com uma expressão amigável. Ele tomou coragem e se aproximou. “Vocês vêm de onde?”, uma pergunta comum que vem acompanhada de uma resposta não usual:…
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uma jornada que faço só, sozinho com todo mundo
Equilibrando sobre as rodas de uma bicicleta, precisando pedir água ou ajuda, prestando atenção no ambiente estranho, chegando lentamente por cidades desconhecidas, observando os lugares como um caçador. Aprimorando o faro para achar abrigo. Entre uma bica d’água e um refúgio. Às vezes me sinto como Wallace, nunca como Darwin (aqui estou falando de finanças).…
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vi vendedores de postais, mas nunca de paisagens
Juntei quatro ou cinco malas e coloquei dentro tudo o que me pertencia. Saí com o melhor meio que conheço simplesmente por querer ver o que há nas bordas do continente, para descobrir o que já existe há centenas de anos. Para tentar beber da cultura de cada lugar enquanto não há um padrão pétreo.…
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subir na montanha para ver o vale
Toda cerca que construí para me proteger dos perigos está mais próxima de mim do que dos perigos. Subir numa bicicleta com tudo o que posso carregar e sair por aí foi uma forma de tentar fugir do sufoco que eu criava. Toda vez que sentia um medo herdado eu colocava mais um tijolo no…
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anotações da Patagônia
Notas do dia 273. Hoje a barraca amanheceu com uma fina camada de gelo. Estamos há oito dias seguidos acampando e há cinco sem banho. Ainda estamos cheirosos – é bom pensar assim. Saímos de Villa La Angostura para fazer o Circuito dos Sete Lagos. É o trecho mais lindo que já percorri. As curvas…