Quando me fiz nômade, cumprindo karma e DNA, o modelo contratual de vida que me foi apresentado desde muito novo começou a desmoronar. As paredes, que já contavam com rachaduras e descascamentos, foi ao chão.

Acreditando em não sei o quê, confiando em algo invisível que pairava, eu tive a coragem de sair para uma longa viagem de bicicleta. E deixo claro que a coragem aqui tratada é totalmente alicerçada por medos. O que seria de mim sem meus medos de estimação?
Mas o certo é que parti. E parti com pouquíssimo dinheiro – quando se acredita em não sei o quê e quando se confia em algo que paira, damos razão a esses impulsos do coração (nem os chamamos impulsos).

Eu, como trabalhador exemplar que sempre fui, de longos períodos de carteira assinada, continuei a trabalhar na viagem. Mas olha só, veja você, eu trabalhava para mim. E isso difere pela satisfação do produto, apesar do bolso permanecer vazio. Eu, como meu novo patrão, me pagava com a vista da viagem.
Acham que eu imaginava que me tornaria um escritor? Que publicaria um livro? UM LIVRO!? Acham que pensaria escrever roteiros, produzir documentários, ter filmes em festivais de cinema? Acham que passava pela minha cabeça que encontraria o meu amor?

Desde as primeiras pedaladas, era como se portas e mais portas fossem se abrindo para mim. As rodovias eram túneis que me transportavam para novas janelas escancaradas. Gentes, eu só fui.
Ainda busco vocação, para ser sincero. Voltei a desenhar outro dia.
