subir na montanha para ver o vale

Toda cerca que construí para me proteger dos perigos está mais próxima de mim do que dos perigos. Subir numa bicicleta com tudo o que posso carregar e sair por aí foi uma forma de tentar fugir do sufoco que eu criava. Toda vez que sentia um medo herdado eu colocava mais um tijolo no muro. E a cada tijolo de segurança que eu empilhava, menos vento eu sentia.

Já percorri mais estradas nos últimos meses do que em toda a minha vida. E não estou falando de distâncias espaciais, estou falando de profundidade. Aos poucos, o garoto que saiu com pretensão de mudar o mundo assiste o mundo que, sem pretensão nenhuma, o muda. Como se eu tivesse que sair e ver com meus olhos a injustiça que não posso mudar. Como se antes eu tentasse molhar o oceano com meu copo cheio d’água e agora eu tentasse molhar o oceano com uma pipeta.

É preciso subir na Montanha para ver o Vale. É preciso estar no Vale para contemplar a Montanha.

Texto escrito no dia 19 de dezembro de 2022


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