Juntei quatro ou cinco malas e coloquei dentro tudo o que me pertencia. Saí com o melhor meio que conheço simplesmente por querer ver o que há nas bordas do continente, para descobrir o que já existe há centenas de anos. Para tentar beber da cultura de cada lugar enquanto não há um padrão pétreo.
Saí para subir o morro e contemplar uma vista que já está em milhares de fotos que rodam o mundo, mas que nunca esteve diante de mim. Para ver o que é azul e laranja, para entender que o verde não é uma só cor. Para sentir o vento sul e sofrer com ele. Para ver que o oceano não cabe em uma TV. Saí por que não quero ficar com a versão de outros que já foram. Saí por que duvidei de todo mundo, de cada foto estampada nas revistas, de cada descrição de García Márquez, de cada experiência de turista.

Vim como vim porque os pacotes de viagem não me são suficientes, por que minha ganância não é por casa, carro ou seis estrelas. Vi vendedores de postais, mas nunca de paisagens. Vi vendedores de tinta, mas ninguém vendia cores. Não há potes de calor nas gôndolas, nem de sorrisos. Ninguém negocia felicidade na esquina, porque as esquinas têm donos.
E que ninguém fique com a minha versão.
Texto escrito no dia 18 de maio de 2022